A VOCALIZAÇÃO NAS AVES

Referência: Lima, A.A. e Moraes, I.A. A vocalização nas aves. Webvideoquest de fisiologia veterinária. 2016
Introdução
A maioria das espécies animais apresentam uma vocalização típica que permite a comunicação entre seus pares sinalizando situações de alarme, de interesse sexual ou mesmo de bem-estar. Isto não é diferente nas aves como passaremos a abordar neste texto.
Segundo Grandin (1998, apud NAAS, 2008), a vocalização é uma forma de comunicação que ocorre entre indivíduos da mesma espécie. Essa vocalização pode se dar de forma espontânea ou como resultado de um evento externo (MANTEUFFEL & SCHÖN, 2002).
A comunicação é essencial para a sobrevivência dos animais, e cada espécie apresenta seu próprio sistema, que se adapta às exigências impostas pelo ambiente em que vive (PAIM, 2009). Cada espécie deve manter uma estrutura sonora que é determinada geneticamente e rigorosamente definida para seu reconhecimento específico (VIELLIARD, 2007, apud PAIM, 2009).
São várias as vozes descritas existentes entre as aves. Veja no quadro abaixo as mais comuns e no link logo em seguida as diferentes denominações que elas já receberam.
AnimalVoz
GalinhaCacareja
PatoGrasna
PeruGruguleja
PomboArrulha
CorvoCrocita
VEJA AQUI OUTRAS VOZES DE AVES 
Bases anatômicas para a vocalização
O órgão responsável pela produção de som nas aves é a siringe, que faz parte do sistema respiratório e fica localizada na região caudal da traqueia e cranial aos brônquios (FARIA, 2011) informou que . Segundo o autor é a siringe que permite o canto das aves canoras, e nas que não cantam a sonorização pode ser obtida por meio do estalar dos bicos, pelo chacoalhar de penas ou mesmo nas almofadas de ar que certas aves apresentam nas vias respiratórias no tórax e sem interferência da siringe.
http://www.pajareras.es/?route=blog/post&post_id=23
http://respuestas.tips/cual-es-el-organo-vocal-de-las-aves/
Fisiologia da vocalização das aves
De acordo com Podos e Nowichi (2009, apud MARQUES, 2008), a vocalização normalmente ocorre durante a expiração, quando a passagem do ar pela siringe gera uma vibração do par de membranas denominadas membranas timpaniformes posicionadas nos dois lados da siringe. A frequência dos sons produzidos pela membrana siringeal corresponde às taxas em que oscilam estas membranas. Os pássaros são capazes de modular a frequência dos sons produzidos através da contração ou relaxamento dos pares de músculos siringeais.
Experimentos de Suthers (1999, 2004, apud MARQUES, 2008) mostraram que a produção sonora pode ser controlada separadamente para cada lado da siringe. Os pássaros canoros podem produzir som de um lado da siringe e do outro, ou produzir simultaneamente diferentes sons harmonicamente relacionados usando os dois lados. A diversidade de sons é aumentada pelo fato de que os dois lados da siringe podem ter variações de frequência sonora, e isso pode permitir diferentes efeitos acústicos.
Marques (2008),observou a siringe em funcionamento por endoscopia e verificou que é toda a massa de estruturas moles da siringe, e não somente as membranas timpaniformes, que vibra durante a produção de som. Todavia, parece confirmar-se o modelo segundo o qual os sons são gerados diretamente pela vibração do ar expirado, modelo físico.
Comunicação entre as aves
Broom & Fraser (2010, apud Filho e cols., 2016) relatam que importância da comunicação entre as aves se desenvolve antes da eclosão, de forma que pintainhos ainda nos ovos emitem sons em resposta aos chamados emitidos pela mãe. Nos momentos que precedem a eclosão as vocalizações tem o objetivo de fazer a comunicação entre animais da mesma ninhada e assim sincronizar o momento da eclosão, sendo de 9 a 20 horas após a eclosão os momentos de maior sensibilidade a estímulos sonoros.
Uma ave é capaz de comunicar muitos dados com os sons que articula; pode indicar sua espécie, sexo, identidade individual e inclusive sua condição. Pode desencadear excitação sexual, curiosidade, alarme ou temor em outra ave. Por meio destes sons pode também atrair para um acasalamento ou afugentar um rival. Além disso, pode transmitir informações sobre onde se encontram alimentos ou onde há um lugar para aninhar.   Também pode avisar aos demais sobre a presença de um predador. Mas, quando canta, a mensagem habitual que a ave transmite é a proclamação de seu território (CUBERO, 2016).
Cantos e Chamados
Os sinais sonoros das aves podem ser classificados, de acordo com suas características e funções, em chamados e cantos. Os chamados são normalmente menos elaborados e com uma ou poucas notas e é emitido durante todo o ano e são utilizados principalmente na comunicação entre a prole e os pais, como alarme contra predadores, anúncio de encontro de alimento e na manutenção do contato visual entre membros de um grupo (Tolentino, 2015).
O canto das aves é uma série de notas, geralmente de mais de um tipo, emitidas em sucessão e relacionadas entre si formando uma sequência de sons bem reconhecidos, e tem complexidades características de ritmo e de modulação que os diferenciam entre as espécies. Além disso, o canto está basicamente sob controle dos hormônios sexuais e relacionado com a época da reprodução, bem como para o estabelecimento e a defesa do território e ainda com a manutenção do casal (SANTOS, 1994).
Existem três componentes possíveis no canto das aves: o componente genético, que é herdado; o componente de aprendizado, que a ave ouve e incorpora no repertório coisas que ela ouve, e o improviso com os sons que elas conhecem (BUZZETTI , 2010 ).
O canto estereotipado é determinado geneticamente sem a necessidade de um modelo e geralmente é simples e previsível, além de ser fixo entre as gerações. Já o canto aprendido apresenta uma tendência à maior complexidade, aliando as características genéticas àquelas determinadas pelo aprendizado, podendo ter variações entre as populações e entre indivíduos, dependendo do processo de aprendizagem (SILVA & VIELLIARD , 2011; LOPES, 2011, apud TOLENTINO, 2015),
O canto das aves está intimamente relacionado à estação em que se emite e, apesar de que algumas delas possam cantar em qualquer época do ano, nunca vociferam tanto como na primavera, quando estabelecem seus territórios. Ao aproximar-se o verão e entregar-se ao acasalamento e a construção de seus ninhos, à postura, à incubação e à criação de seus filhotes, os cantos de muitas espécies se tornam mais intermitentes ou apagados e inclusive cessam do todo. O canto primaveril surge como resposta às modificações que os hormônios provocam no organismo da ave, particularmente o aumento de tamanho dos seus órgãos reprodutores, que se deve ao maior número de horas de luz. No inverno, a maioria das aves emudece e, em general, a chuva e o mau tempo tendem a inibir o canto.   No ciclo diário, tal qual no estacional, a luz é o fator principal que influi no canto. A passagem da noite para o dia produz o mesmo efeito no canto que a passagem do inverno para o verão. São mais aves que cantam durante 20-40 minutos na duração do amanhecer do que as que o fazem durante qualquer momento do dia. Não é fácil alegar uma razão biológica para isso, ainda que exista alguma vantagem em que todas as aves cantem ao mesmo tempo, já que dessa maneira cada uma se inteira do que está sucedendo a seu arredor e onde se encontram seus rivais (CUBERO, 2016).
Santos (1994) mostrou que as aves podem ser agrupadas em famílias de acordo com seu timbre de voz ou pelo seu tipo ou característica. Segundo ele os Psittacidae (araras, papagaios e periquitos), na maioria das vezes, vocalizam alto e estridente. Já os Picidae (pica-paus) são gritadores e os Enberizidae (várias espécies como canários e tico-ticos) são melodiosos. Os autores informam que existem aves que tem a voz aguda como, por exemplo, vários Emberizidae, já em outras aves a voz é grave como o Tucanoçu ( ramphastos toco ) e o Socó-boi ( Botaurus pinnatus ). Os beija-flores possuem voz aguda muito baixa e repetitiva e aves como o Acauã ( Herpetotheres cachinnans ) tem grande capacidade de vocalizar, repetindo seu canto por vários minutos, principalmente no crepúsculo. Outras têm a vocalização curta e rápida como certos Dendrocolaptideos que dão um ou dois gritos; outros ainda têm canto prolongado e monótono como a Tovaca ( Chamaeza campanisona ).
Outras manifestações sonoras
Foi demonstrado por Sick (2003, apud MARQUES, 2008) que alguns dos sons emitidos pelas aves para fins de comunicação não o são pela siringe, nas vias respiratórias, mas de outro modo. Podem ser produzidos através de um estalar com o bico, na maioria dos casos em aves que se sentem ameaçadas como as corujas e o jacu estalo ( Neomorphus sp.). Podem produzir sons com as penas, simplesmente levantando voo, caso dos pombos e alguns bacuraus, ou com penas das asas (rêmiges) transformadas em penas sonoras, caso da Jacutinga ( Pipile jacutinga ), Chupa dente ( Conopophaga lineata ) e o grupo dos Tangarás (Piprideos).
Segundo Anjos (1993), outro som mecânico é o tamborilar dos pica-paus, que não deve ser confundido com o cinzelar, este é função da procura de alimento ou da elaboração de uma cavidade nidificadora, enquanto que o tamborilar é realizado em diversos tipos de substratos tendo como função exclusiva produzir rumor em função da defesa do seu território (MARQUES, 2008).
Importância da vocalização na avicultura
Filho e cols. (2016) mostram que os estímulos sonoros e visuais tem grande potencial na melhora do consumo de ração, ganho de peso e uniformidade de pintainhas, o que pode beneficiar a avicultura comercial, melhorando indicadores zootécnicos durante a fase inicial de criação, mas ainda deve ser avaliadas as fases subsequentes e se a presença física das aves adultas é necessária para que o efeito dos estímulos sejam válidos.
Naas e cols.(2008), com uso de equipamentos especiais para análise dos sons da vocalização de pintainhos de corte de ambos os sexos com um dia de vida, buscaram evidenciar a possibilidade de identificação dos gêneros e das linhagens envolvidas . Os autores concluíram que é possível realizar a diferenciação de linhagens e gêneros, no entanto, as variações não são perceptíveis aos ouvidos humanos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUZZETTI, D. Ouvido aguçado: mais de 250 aves identificadas pelo canto , 2010. Texto disponível em:<www.wwf.org.br/natureza_brasileira /areas_prioritarias/amazonia1/nossas_solucoes_na_amazonia/exp/2010_expedicao_cientifica_terra_do_meio/?27228 /Ouvido-agucado-mais-de-250-aves-identificadas-pelo-canto >. Acesso em: 20 nov. 16.
CUBERO, L. N. Porque as aves cantam, in Sítio do Curió. Texto disponível em: <www.sitiodocurio.com.br/si/site/004214>. Acesso em: 25 dez. 2016.
FARIA, B. Biofisica da Fonação . 2011. Hipertexto disponível em: < www1.univap.br/spilling/BIOF/BIOF_Semin_Fonacao_ SuzanaBFaria.pdf >. Acesso em: 21 nov. 2016.
FILHO, J.A.V.; GARCIA, E. A.; SARTORI, J. R.; MURO, E. M.; NETO, A. C.; LOPES, L.; ITO, A.; MOLINO, A. B. A estimulação visual e sonora melhora o consumo e ganho de peso de pintainhas durante a fase de cria , 2016. Texto disponível em https://www.researchgate.net/ profile/Javer_Alves/publication/307510111_A_estimulacao_visual_e_sonora_melhora_o_consumo_e_ganho_de_peso_de_pintainhas _durante_a_fase_de_cria/links/57c6ffff08aec24de042a52f.pdf. Acesso em: 26 nov. 2016 .
MARQUES, A. B. Abordagens sobre a bioacustica na ornitologia: conceitos básicos. Atualidades ornitologicas online . Rio de Janeiro. N 146. Dez/2008. Disponível em: <http://www.ao.com.br/download/ao146_38.pdf>. Acesso em: 22 de dez. 2016.
Museu Escola do IB da Unesp .  Biologia geral das aves . Disponível em: <http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/Ensino_Fundamental/Animais_JD_Botanico/aves/aves_biologia_geral_canto.htm>. Acessado em: 25 dez. 2016.
NÄÄS, I.A.; CAMPOS, L.S.L; BARACHO, M.S.; TOLON, Y.B. Uso de redes neurais artificiais na identificação de vocalização de suínos.Engenharia agrícola, v. 28 n. 2, p. 204-16, 2008.
PAIM, F.P.; QUEIROZ, H.L. Diferenças nos parâmetros acústicos das vocalizações de alarme das espécies de saimiri Voigt, 1831 (Primates, Cebidae) na Floresta de Várzea Reserva Mamirauá., Uakari , v. 5, n. 1, p. 49-60, 2009.
SANTOS, A.S.R. Identificação das aves pela voz , 1994. Texto disponível em: <http://www.aultimaarcadenoe.com.br/identificacao-das-aves/>. Acesso em: 22 nov. 2016.
TOLENTINO, V.C.M. 2015. Repertório vocal e variações no canto de aves em diferentes áreas florestais no cerrado sensu lato . Texto disponível em: <https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/13417/1/RepertorioVocalVariacoes.pdf>. Acesso em: 21 nov. 16.
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