FISIOLOGIA DO CHOCO

 

O período de choco é observado quando há declínio na produção de ovos em uma galinha e início do período de incubação associado com a redução no consumo de alimentos.
De modo natural todas as aves apresentam o choco, no entanto, ele tem sido raramente observado em linhagens industriais de galinhas poedeiras devido à seleção genética a que foi imposta na busca de maior rentabilidade com o aumento na produção de ovos.

 

Endocrinologia do choco
Durante o período do choco, as concentrações plasmáticas de gonadotrofinas estão muito baixas e ocorre regressão do ovário em virtude da redução da fotossensibilidade hipotalâmica. A queda da fotossensibilidade determina uma baixa na liberação de GnRH pelo hipotálamo e uma subseqüente queda na liberação de LH e FSH pela hipófise.
A queda de FSH e LH e o baixo estímulo das camadas de células da teca e da granulosa, onde os androgênios, estrogênios e progesterona são sintetizados, acarretam a regressão ovariana e compromete a evolução dos folículos.
O nível baixo de progesterona vai dificultar ainda mais a liberação de LH, pois a onda de progesterona é que induz a liberação de LH para desencadear a ovulação. Assim sendo, durante a fase de choco a galinha cessa a postura.
No ciclo reprodutivo, os níveis de prolactina variam de muito baixos no momento da fotoestimulação até níveis moderados no momento do pico de produção. Durante os dias que precedem a postura do último ovo, ocorre uma redução da secreção de progesterona e um aumento da secreção de prolactina e o ovário regride.
O aumento da secreção de prolactina ocorre em consequência de uma redução da atividade dopaminérgica e de um aumento na produção de PIV (Polipeptídeo Vasoativo Intestinal) pelo hipotálamo. O PIV tem sido considerado como um fator estimulante da liberação de Prolactina (PRF) e a dopamina um fator inibidor da liberação de prolactina (PIF).
A literatura tem demonstrado que a prolactina induz um feedback negativo sobre a secreção de GnRH pelo hipotálamo e consequentemente de LH pela hipófise, assim como o estrogênio e a progesterona inibem a síntese de PIV pelo hipotálamo.
Atualmente é aceita a hipótese de que a redução de hormônios esteróides pelos ovários propicia o aparecimento do choco ao permitir um aumento de PIV e conseqüente aumento da secreção de prolactina. Desta maneira, a prolactina em alta na circulação da ave, determina redução do GnRH hipotalâmico e LH hipofisário pelo feedback negativo, causa a regressão ovariana e impõe o comportamento de choco.
Ao começar o choco, a ave apresenta um comportamento característico de interromper a rotina de alimentação e de ingestão de água. Ela procura um ninho em local isolado, escuro, não frio, úmido e de preferência que já tenha ovos presentes. Já foi observado que as altas temperaturas ambientais resultam no aumento da produção de PIV pelo hipotálamo e aumenta a prolactina sérica.
O comportamento do choco dispõe de um forte componente neural. Foi observado que o contato físico dos ovos com o peito da ave estimula terminações localizadas nesta área e resulta em aumento da secreção de prolactina. A desenervação da área do choco sobre a superfície ventral do peito da galinha diminui o tempo de nidação, diminui a prolactina e bloqueia o choco. Em condições normais, observa-se que os níveis de prolactina plasmáticos caem rapidamente se as fêmeas são privadas de nidar e aumentam rapidamente quando elas voltam a ter acesso ao ninho.
Em unidades de produção de ovos, como forma de evitar o aparecimento do choco, recomenda-se fazer a coleta freqüente dos ovos do ninho e do chão e impedir locais que, possivelmente, sirvam de ninho, como locais escuros, cantos e não permitir acesso noturno das aves aos ninhos. Caso a ave apresente o choco, e sendo indesejável para o proprietário, recomenda-se retirar a ave em choco do ninho para outro ambiente.
A tiroxina, produzida pela tireóide, também possui concentrações elevadas durante o choco e está relacionada com o crescimento de novas penas da ave.

 

 

Mudanças anatômicas e fisiológicas
Durante o período do choco ocorrem mudanças anatômicas e fisiológicas.
  • Regressão do ovário (relacionada às concentrações plasmáticas dos hormônios gonadotrópicos e esteróides).
  • Diminuição do peso do fígado (ocorre devido à baixa exigência metabólica para a produção de vitelo).
  • Anorexia e Perda de peso corporal (a perda da fome está associada a liberação do PIV).
  • Hiperemia (associada com a ação vasodilatadora do PIV provocando um maior fluxo sanguíneo nos vasos).
  • Mudança na plumagem. (associada com a função da tiroxina que determina o aumento no número das penas menores ou penugem.

 

Muda
A muda consiste na regressão completa do trato reprodutivo e perda de penas.
É necessário que a muda induza alterações hormonais que resultem em perda completa da função reprodutiva. O foco é o eixo hipotalâmico-hipofisário fazendo com que o hipotálamo cesse a produção de GnRH resultando em parada da secreção de LH pela hipófise, parada do desenvolvimento folicular e queda do estrogênio responsável pela manutenção do oviduto.
Além da redução de LH e estrogênio, os níveis de progesterona declinam e os de tiroxina aumentam. Esses níveis elevados de tiroxina podem ser a causa da perda de penas, uma vez que a tiroxina estimula o crescimento de novas penas. Aliado a isso, elevados níveis de tiroxina podem ser responsáveis pela fotorrefratariedade, uma vez que a ave não responde neste período à fotoestimulação.
No processo de perda das penas observa-se que inicialmente caem as penas da cabeça e região do pescoço, passando para as do peito e do dorso e finalmente para as das asas e as da cauda. As penas das asas são perdidas na seqüência da 1 para a 10, sendo a n°1 a mais próxima do corpo e adjacente às secundárias.
Após sofrer a muda, a ave torna-se endocrinamente similar à ave na fase pré-puberal, e assim poderá retornar a produção de ovos após fotoestímulo e alimentação adequados.
Uma alternativa para melhorar o desempenho reprodutivo das aves das aves de produção é a utilização da muda forçada.
Existem vários métodos de indução à muda forçada, dentre eles a retirada da dieta acompanhada de redução do fotoperíodo, fornecimento de níveis excessivos de zinco e retirada de sódio da dieta das aves. Segundo alguns autores é conveniente a realização de muda forçada somente para lotes que apresentare m bom desempenho até 64 semanas de idade.
A perda de penas primárias tem sido associada com o desempenho reprodutivo pós-muda, assim os tratamentos que induzem a perda de penas primárias mais rapidamente resultam em maior produção de ovos. A perda de penas primárias ocorre por causa da perda da influência estrogênica na papila da pena, além da ação da tiroxina.

 

Leitura complementar:
Avanços na fisiologia e desempenho reprodutivo de aves domésticas 
Conceitos modernos em muda forçada de poedeiras comerciais

 

 

 

Skip to content