Para que o útero seja capaz de receber o embrião e fixá-lo, é necessário que a concentração de progesterona esteja superior à de estrogênio, e isto é conseguido através da manutenção do corpo lúteo. De acordo com JAINUDEEN e HAFEZ, o contato íntimo entre o embrião em desenvolvimento e a mãe leva o concepto a influenciar a fisiologia materna por meio de mecanismos endócrinos. Nos ruminantes e não-ruminantes, o blastocisto (antes de se ligar ao endométrio) secreta substâncias que prolongam o período de vida útil do corpo lúteo cíclico, além do ciclo estral; esse período é conhecido como reconhecimento materno da prenhez.
Fisiologicamente, as vacas não gestantes mantém o corpo lúteo após a ovulação por volta de 17 a 19 dias. Ao completar esse período, a ocitocina produzida pelo próprio corpo lúteo estimula o endométrio a sintetizar prostaglandina F2 alfa. Com isso o corpo lúteo regride e a concentração de progesterona cai. Se a vaca é copulada e ocorre a fecundação, será necessário um sinal para o endométrio mudar o padrão de síntese de prostaglandina e a progesterona continuar agindo para a manutenção da gestação. Este sinal bioquímico é enviado pelo próprio embrião antes do final do diestro e antes de ocorrer a fixação.
A função continuada do corpo lúteo (CL) como resultado desta sinalização é denominada de reconhecimento materno de gestação. A natureza dessa sinalização varia de acordo com a espécie.
Bovinos e Ovinos
Os embriões de bovinos e ovinos, por volta do 12º ao 14º dia de gestação, deixam de ser ovais e tornam-se alongados permitindo que o embrião entre em contato com grande parte da superfície endometrial do corno uterino. Esses embriões secretam proteínas de origem trofoblástica denominadas Interferon-Tau que do ponto de vista químico são proteínas do tipo interferons associadas à atividade antiviral.
Essas proteínas trofoblásticas entram em contato com a superfície endometrial inibindo a secreção de prostaglandina. Na ausência de prostaglandina, o corpo lúteo continua a secretar progesterona necessária a manutenção da gestação. É importante destacar que o alongamento do embrião bovino é essencial para o reconhecimento materno da gestação.
Equinos
Na espécie equina não há a síntese de proteínas trofoblásticas pelo embrião. Atualmente, sabe-se que o embrião dessa espécie produz estrogênio, que estimula a síntese de uma substância ainda desconhecida pelos pesquisadores.
O embrião se move rapidamente de um corno para outro antes de se fixar no 16º dia de gestação. A migração embrionária transcornual faz com que as células endometriais entrem em contato com esta subastância que apesar de desconhecida, sabe-se que sua ação é suprimir a síntese de prostaglandina endometrial.
Na égua não gestante, o corpo lúteo dura 14 dias.
Suínos
Na espécie suína, sabe-se que o estrogênio sintetizado pelo embrião também altera a síntese de prostaglandina no endométrio. O estrogênio altera a secreção de prostaglandina de endócrina para exócrina, ou seja, a prostaglandina cai no lúmen uterino. Dessa forma, a ação da prostaglandina se torna ineficiente e o resultado é a manutenção do corpo lúteo.
Cães e gatos
Nesses animais de pequeno porte, o reconhecimento materno de gestação não é necessário, pelo menos durante a parte inicial da gestação. Na gata, o CL dura de 35 a 40 dias após a ovulação, independente da presença de gestação. Já que a implantação ocorre por volta do 13º dia, a modificação do padrão de síntese de prostaglandina não é fundamental para o estabelecimento da prenhez.
A gestação da gata dura de 58 a 63 dias. Especula-se que a relaxina, em sinergismo com a progesterona, cause um prolongamento da atividade lútea para o prosseguimento da gestação.
Nas cadelas, o período de duração do CL, independente de gestação, é por volta de 60 dias. Como a gestação dura em torno de 58 a 63 dias, um hormônio placentário desconhecido auxilia na manutenção do CL por um curto tempo.
Literatura consultada
SWENSON, M.J.; REECE, W.O.; Dukes Fisiologia dos Animais Domésticos. 11ª ed. Rio de Janeiro, RJ, Editora: Guanabara Koogan, Cap.07, p.662-663, 1996
CUNNINGHAM, J.G.; KLEIN, B.G.; Tratado de Fisiologia Veterinária. 4ª ed. Rio de Janeiro, RJ, Editora: Elsevier, 2008