O COMPORTAMENTO MATERNO DE LAMBEDURA DA CRIA

NARDES, A.P.P.; MORAES, I. A. O comportamento
materno de lambedura da cria. Webvideoquest de Fisiologia Veterinária.2018

 

 

Os padrões comportamentais de vacas e bezerros durante as primeiras horas após o parto são de extrema importância para a avaliação, adaptação, sobrevivência e desenvolvimento do neonato no novo ambiente a que é exposto (RIBEIRO e cols., 2004). Em condições normais, após o parto, com o bezerro no chão, a mãe se levanta (quando não pariu em pé) e vira para cheirá-lo e lambê-lo (PARANHOS da COSTA e cols., 2001). Além disso, Segundo Hermann e Stenum (1982) citado por Braga (2011, p. 20) “vocalizações são comuns nas primeiras horas após o parto, e se manifestam concomitantemente com a lambedura da cria permitindo que o bezerro reconheça o som de sua mãe.”
De acordo com Houpt (2004) citado por Braga (2011, p. 19) “o sinal mais evidente do comportamento materno é a lambedura da cria. A mãe lambe e cheira a cria realizando a limpeza do bezerro e ao mesmo tempo estimula as atividades respiratórias e circulatórias, expulsão do mecônio e eliminação da urina.” Dessa maneira, o comportamento materno de lambedura da cria é um um dos elementos comportamentais que mais caracteriza o cuidado materno nos mamíferos que, além de ajudar a orientar os filhotes com as pálpebras cerradas, à região mamária (BEAVER, 1992) e facilitar o estabelecimento do vínculo materno-filial (CROWELL-DAVIS & HOUPT, 1986). Também estimula o reflexo de micção e defecação, quando localizada na região anogenital (ROBINSON, 1992). Além disso, a literatura indica que a lambedura do recém nato é importante, pois permite a limpeza dos fluidos placentários presentes na pelagem facilitando a secagem.
Fonte: https://www.comprerural.com/nascimento-do-bezerro-lambidas-e-colostro-podem-decidir-vida-saudavel-durante-toda-a-vida-do-animal/
De acordo Paranhos Da Costa (1998) uma relação de cinco minutos já é suficiente para criar o vínculo materno necessário para o instinto protetor da cria. A literatura também cita que a lambedura da cria também é importante para estimular a circulação periférica e a termogênese, importantes neste momento já que os filhotes nascem em ambientes onde a temperatura é normalmente menor que a do ambiente uterino da mãe.
Edwards e Broom (1982) citado por Braga (2011, p. 19) descrevem que “durante a primeira hora após o nascimento a vaca ocupa de 30-50% do tempo lambendo seu bezerro, sendo que multíparas apresentam maior intensidade de lambedura durante a primeira hora após o nascimento que primíparas. Estas, por sua vez, compensam parcialmente o aumento da lambedura durante a segunda hora após o nascimento.” Em algumas espécies, como bovinos, este comportamento pode ser observado por mais de 10 meses. De acordo com a literatura, sem que esclareça os motivos, tal comportamento não é observado nas porcas e nas vicunhas (camelídeo).
De acordo com Worthington e De La Plain (1983) citado por Braga (2011, p. 20) “As vacas lambem suas crias durante todo o período de amamentação, sendo que o tempo dedicado a atividade parece ser independente da idade e da experiência da vaca.” Em relação à habilidade materna, ainda de acordo com estes autores “estudos relatam que multíparas são melhores que primíparas, em decorrência de experiências anteriores e também por alterações neuroendócrinas consequentes desse aprendizado.”
Resille (2010) citado por Braga (2011) considerou o tempo de cuidado com a cria como, cheirando o chão e cria, lambendo o chão e cria, se lambendo e ingerindo a placenta estudando vacas mestiças leiteiras, e concluiu que a maior parte do tempo cuidando da cria é destinada a lamber o recém nascido.
Paranhos Da Costa & Cromberg (1998) observaram que as raças Nelore e Caracu cuidam mais de suas crias do que animais das raças Guzerá e Gir, respectivamente. A observação desses raças também permitiu verificar que na  relação entre tempo de cuidado com a cria e sexo do bezerro,  as vacas cuidam de ambos os sexos com a mesma intensidade concluindo que não há diferenciação sexual em relação ao cuidado materno.
 
Fonte: http://chooseveg.com/blog/8-incredible-facts-that-prove-cows-are-too/
Esse comportamento de limpeza parece, segundo Felicio (1998) citado por Braga (2011, p. 20), ser influenciado pela ação da prolactina, mediadora de grande parte do comportamento materno, sendo em conjunto com outros hormônios de mesma origem filogenética, como o hormônio do crescimento (GH) e os lactogênios placentários, importantes para a expressão do comportamento materno.
Foi observado que as mães de ratos que adotam o ato de lamber e de preparar a prole têm níveis mais elevados de ocitocina na área pré-óptica medial e no núcleo paraventricular, e aumento das projeções de neurônios ocitocina-positivos a partir da área pré-óptica medial e paraventricular para a área tegmentar ventral. Além disso, de acordo com estudos realizados com ratos Long-Evans, foram encontradas variações que ocorrem naturalmente na lambedura e no cuidado maternal e as mesmas foram diretamente relacionadas à expressão do receptor de ocitocina. As fêmeas que respondiam mais maternalmente aos filhotes apresentaram níveis mais altos do receptor de ocitocina, por exemplo, no núcleo paraventricular, na área pré-óptica medial, no septo lateral, na amígdala central e no núcleo leito da estria terminal. Dessa forma, ao realizar a infusão intracerebroventricular de um antagonista de receptor de ocitocina em mães que realizavam elevado comportamento de lambedura e cuidado, aboliu-se as variações desses comportamentos sob os filhotes, sugerindo que a ocitocina e o receptor de ocitocina são funcionalmente relacionadas a esse componente específico do comportamento materno. (JUREK & NEUMANN, 2018).

 

Bibliografia consultada
BRAGA, Luciana Dias da Cunha. Comportamento materno filial de animais Guzerá P.O. e mestiços Holandês x Guzerá. 2011. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina
JENSEN, P. Parental Behaviour. In: L.K. KEELING & H.W. GONYOU (Ed.) Social Behaviour In Farm Animals. Oxon: CABI Publishing, 2001. p. 59-81. Aspectos Histológicos da Pele da Região Anal de Gatos Domésticos à Luz do Comportamento de Lambedura Anogenital do Neonato Exibido Pela Mãe. Disponível em:<http://www.uece.br/cienciaanimal/dm documents/Artigo1_2010.pdf>
JUREK, B.; NEUMANN, ID. The Oxytocin Receptor: From Intracellular Signaling to Behavior. Disponível em: <https://www.physiology.org/doi/10.1152/physrev.00031.2017>. Acesso em: 19 de Julho de 2018
PARANHOS da COSTA, M. J. R.; e CROMBERG, V. U. Relações materno-filiais em bovinos de corte nas primeiras horas após o parto. In: Comportamento Materno em Mamíferos: bases teóricas e aplicações aos ruminantes domésticos, São Paulo: ed. Sociedade Brasileira de Etologia, v.10, p.215 – 235. 1998.
PARANHOS da COSTA, M. J. R.; TOLEDO, L. M.; CROMBERG, V. U. Implicações práticas e métodos de estudo das relações materno-filiais em bovinos de corte nas primeiras horas após o parto. In: XI Congresso Brasileiro de Zootecnia 11, 2001, Goiania. Anais… Goiânia. 2001. p.110-117.
RIBEIRO, L.; TOLEDO, L. M. de; PARANHOS da COSTA, M. J. R. Influência de locais do parto no comportamento de vacas e bezerros da raça Nelore In: ZOOTEC, 2004, Brasília. Anais… 2004.

 

 

 

 

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