POLIPNÉIA, OFEGO, ARQUEJO OU RESPIRAÇÃO ARQUEJANTE

Benício, L; Teixeira J.; Pereira, J. & Moraes, I.A.
(Última atualização: 10/06/2016)

 

É um importante mecanismo de regulação da temperatura corporal em muitas espécies (REECE, 1988). A integração entre os estímulos respiratórios habituais e a temperatura central do corpo dos cães, por exemplo, faz com que haja uma resposta metabólica para a regulação da ventilação alveolar e da ventilação do espaço morto visando à dissipação do calor (REECE, 1988).
Durante a polipnéia, a frequência respiratória aumenta. Porém, o volume respiratório diminui, o que faz com que a respiração alveolar (efetiva, onde há trocas gasosas) permaneça constante. (REECE, 1998). Por meio do aumento da frequência respiratória, ocorre um aumento da ventilação do espaço morto, local este onde não há difusão de gases pela ausência de epitélio respiratório ou por serem espaços alveolares que não realizam trocas gasosas por terem seus espaços alveolares colabados (MORAES, 2001). Durante o processo, ao entrar em contato com o espaço morto, o ar retira (por evaporação) vapor d`água das membranas das mucosas dos tecidos envolvidos promovendo resfriamento e o consequente efeito de termorregulação (REECE, 1988).
De acordo com as características do fluxo de ar na polipnéia, a mucosa nasal é o principal local de evaporação, mais do que as superfícies orais e língua. Dessa forma deve ser fornecido à essa mucosa um suprimento adequado de água que pode ser derivado das secreções glandulares nasal e orbital, transudato vascular ou ambos.
Há uma glândula nasal lateral em cada seio maxilar e se esvaziam por meio de um ducto único que desemboca 2 cm para o interior da fossa nasal. A elevação da temperatura ambiente acarreta um aumento na taxa de secreção, levando a hipótese de que a função das glândulas nasais seja análoga à das sudoríparas nos seres humanos (REECE, 1988).
Além disso, o ar saturado de vapor d`água (à medida que passa sobre os ossos turbinados nasais durante a inspiração) recebe o calor para a vaporização pelo fluxo sanguíneo nas vias nasais. Isso explica o resfriamento no interior da região nasal, sendo que essa região é drenada por sangue venoso que é mais frio que o sangue arterial que segue para as vias nasais. Em situações que requerem maior perda evaporativa de calor, o sangue que drena a mucosa nasal é direcionado para os seios venosos da base do cérebro por onde passa uma rede de artérias originárias da artéria carótida comum que passa a fornecer sangue para a base do cérebro. Tal arranjo é conhecido como rede admirável e permite que o sangue arterial seja resfriado pelo que drena a cavidade nasal em um sistema de contracorrente.
O cão arqueja, porém, ao contrário do que se pensa, não o faz através da boca. A língua úmida quando em protusão, aumenta a área de superfície disponível para evaporação. Porém a maioria das espécies que fazem polipnéia a faz com a boca fechada. Aves arquejam de boca aberta quando gravemente estressadas pelo calor. A polipnéia ou arquejo ocorre na maioria dos mamíferos (exceto seres humanos) e mesmo em ectotérmicos como insetos e lagartos (ROBERTSHAW, 2006).
A polipnéia é desencadeada por uma carga de calor, porém em algumas espécies acontece a polipnéia térmica, isto é, 200 e 400 respirações por minuto com a boca aberta. Por meio da polipnéia térmica, o resfriamento evaporativo respiratório é aumentado consideravelmente se a umidade do ar inspirado não for muito alta. Em bovinos, estudos sobre os mecanismos da polipnéia mostraram que o resfriamento evaporativo não ocorre a partir do resfriamento nos pulmões e sim nas vias aéreas superiores. No bezerro e no ovino, a polipnéia resultante do aumento da temperatura ambiente pode se iniciar antes mesmo de ocorrer aumento da temperatura do suprimento sanguíneo do cérebro. Caso a temperatura externa permaneça constante, a polipnéia térmica também poderá acontecer mediante aquecimento local do hipotálamo anterior ou pela elevação da temperatura corporal. Isso prova que tanto a polipnéia quanto a sudorese podem ser resultado de estímulos reflexos ou centrais.
As aves por não possuírem glândulas sudoríparas, utilizam-se de outro mecanismo para o aumento da evaporação (além da polipnéia) denominado tremulação ou vibração gular , que consiste na rápida oscilação do assoalho da cavidade oral e da parte superior da garganta (O ar é movimentado para dentro e para fora do trato respiratório para umidificá-lo) (ANDERSON, 1988).

 

 

Bibliografia consultada:
REECE, W. O. Respiração nos Mamíferos. In: SWENSON, M. J. (Ed.).   Dukes – Fisiologia dos Animais Domésticos . Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988. p. 229-242.
ANDERSON, B. E. Regulação da Temperatura e Fisiologia Ambiental.   In: SWENSON, M. J. (Ed.).   Dukes – Fisiologia dos Animais Domésticos . Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988. p. 623-629.
ROBERTSHAW, D. Regulação da Temperatura e o Ambiente Térmico. In: REECE, W. O. (Ed.).   Dukes – Fisiologia dos Animais Domésticos . Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2006. p. 897-908.
MORAES, I. A. – Respiração das aves. Apostila do curso de Fisiologia Veterinária do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal Fluminense Niterói-RJ. 2001. 6p.

 

 

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Mecanismos termorregulatórios das aves
Controle da ventilação em aves
Fisiologia do Sistema Respiratório Aviário

 

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Artigo: Avaliação energética e de desempenho de frangos com aquecimento automático a gás e a lenha
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