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Fisiologia da micção

Referência: Moraes, I.A. Fisiologia da Micção. Webvideoquest de Fisiologia Veterinária. 2016.

 

INTRODUÇÃO
Para que o organismo animal possa manter sua homeostasia é necessário entre tantas outras coisas a manutenção do equilíbrio hídrico. Neste aspecto o rim tem papel especial, pois além de promover a excreção de produtos residuais do metabolismo ele garante a regulação do volume e composição do meio interno do organismo, o líquido extracelular (REECE, 1996, MALNIC, 2009). Para tanto, é necessário a eliminação do excesso de agua do organismo através de um evento denominado micção.
A Micção é o ato de expelir urina, seja de forma voluntária ou não; é o termo fisiológico utilizado para o esvaziamento da bexiga Ela é controlada pelo sistema nervoso, que possui pontos envolvidos na coordenação dos órgãos do sistema urinário entre eles os núcleos da medula espinhal sacral e do tronco cerebral (REECE, 1996).

 

FORMAÇÃO E TRANSPORTE DA URINA ATÉ A VESÍCULA URINÁRIA (BEXIGA)
A urina é resultada da ação do nefron influenciado pelo seu suprimento sanguíneo. Três processos estarão envolvidos neste processo: a filtração glomerular, a reabsorção tubular e a secreção tubular. A filtração dá origem a um ultrafiltrado do plasma conhecido como filtrado glomerular que aparece na capsula de Bowman, e passa a sofrer modificações pela reabsorção e secreção tubular que ocorrem ao longo de toda extensão do nefron, culminando assim com a formação da urina no nível da pélvis renal. A pélvis renal, os ureteres, a bexiga e a uretra não são capazes de modificar a composição da urina (REECE, 1996; MALNIC, 2009), com exceção do cavalo que inclui o muco na urina a partir da secreção pelas glândulas da pélvis e ureter alterando o fluido tubular final que chegou na pélvis (REECE, 1996).
A condução da urina pelos ureteres é feita por meio de marca-passos situado na pélvis renal com potenciais de ação que passam célula a célula por junções comunicantes (gap junctions). Na bexiga a entrada do ureter de maneira obliqua impede a ocorrência de refluxo da urina.

 

FONTE: http://www.bombeirosemergencia.com.br/sistemaexcretor.html

 

 

A INERVAÇÃO DA VESÍCULA URINÁRIA
A musculatura lisa vesical está organizada em feixes longitudinais, circulares e espirais, conjunto chamado de músculo detrusor. Esses feixes se prolongam para a uretra, constituindo o esfíncter uretral interno. Um pouco mais abaixo encontra-se um outro esfíncter, o esfíncter uretral externo, constituído por musculo esquelético (MALNIC, 2009).
Segundo Malnic (2009) a vesícula urinária humana é inervada por fibras autônomas simpáticas e parassimpáticas alem das somáticas. As células musculares lisas vesicais e do esfincter uretral interno são inervados por fibras simpáticas provenientes da região toracolombar chegando a ela por meio dos nervos hipogátricos. A inervação parassimpática tem origem no segmento sacral e atingem a parede da vesícula urinária pelos nervos pelvicos. As fibras do esfinceter uretral externo provêm do nervo pudendo.

 


Fonte: MALNIC (2009).

 

 

Segundo Reece (1996) a divisão parassimpática do sistema nervoso autônomo seria o único suprimento motor para o músculo do corpo e do colo da bexiga, mas ele admite que os nervos simpáticos tem efeito na contração do colo da bexiga durante a ejaculação, assim direcionando o ejaculado através da uretra peniana em vez de permitir o refluxo para dentro da bexiga.
Mais recentemente os autores admitem que a micção é uma função que envolve ação integrada de vias parassimpáticas, simpáticas e somáticas, que se estendem desde o segmento sacral da medula espinhal até o córtex cerebral (CARVALHO, 2008; NELSON E COUTO, 2015) e onde se envolvem os nervos pudendos, hipogástricos e pélvicos (CARVALHO, 2008).
Nelson e Couto (2015) informaram que a via do sistema nervoso simpático toracolombar proporciona o estímulo excitatório para o colo da bexiga e uretra e estímulo inibitório para os gânglios parassimpáticos. Segundo eles as fibras pré-ganglionares do sistema nervoso simpático saem da medula espinal na região lombar (LI-L4 em cães e L2-L5 em gatos) e na sinapse nos gânglios mesentéricos caudais. As fibras pós-ganglionares no nervo hipogástrico liberam a norepinefrina para ativar os beta-receptores na bexiga urinária ou alfa-receptores na musculatura lisa da uretra proximal e na parte funcional do esfíncter interno da uretra.
Os neurónios motores pré-ganglionares parassimpáticos surgem a partir dos segmentos sacrais da medula espinhal entre as vétebras SI e S3. Essas fibras percorrem o nervo pélvico e realizam sinapse nos gânglios periféricos na parede da bexiga urinária. As fibras pós-ganglionares curtas estimuladas proporcionam estímulo excitatório para a vesícula urinária através da acetilcolina que atua em receptores colinérgicos muscarínicos. Alem disso também estímulo inibitório para a uretra, facilitando desse modo o seu esvaziamento (NELSON E COUTO, 2015).
A inervação somática suprida via nervo pudendo surge também a partir dos segmentos sacrais da medula espinhal SI a S3 e proporciona estímulo através da acetil colina nos receptores nicotínicos para o esfíncter externo da uretra na área de músculo estriado permitindo o seu controle voluntário (NELSON E COUTO, 2015)

 

 

REFLEXOS DE MICÇÃO
O tônus vesical é definido como a relação entre o seu conteúdo e a pressão interna que é gerada. E uma vez elevada acentuadamente apressão interna ocorreo desencadeamento do reflexo da micção (MALNIC, 2009). A micção será resultada dos reflexos que envolvem o a medula espinhal sacral, o tronco cerebral, o cortex cerebral e o cerebelo (REECE, 1996; CARVALHO, 2008;, NELSON E COUTO, 2015).
Segundo Nelson e Couto (2015) a micção depende de ações coordenadas entre o sistema nervoso simpático, parassimpático e somático e entre os centros de controle central. Segundo eles a coordenação entre esses sistemas nos animais parece ser realizada no centro pontino da micção, conhecido também como núcleo de Barrington, que está localizado no tegumento pontino dorsomedial no tronco encefálico. O Centro Pontino da Micção recebe a entrada de outros estímulos sensoriais para determinar o início da micção e é inibido pelos centros suprapontinos e corticais (MALNIC, 2009).
Durante o processo de enchimento da vesícula urinária ocorre a ativação dos recpetores de distensão que ativam reflexo espinhal sacral que permite que a urina seja evacuada através do colo da vesícula urinária e do esfíncter externo. No entanto isto é impedido, pelo menso temporariamente, pelo centro reflexo do tronco cerebral, atraves dos impulsos aferentes recebidos daquela região e simultaneamente impedem a contração da vesícula urinária e o relaxamento do esfincter. Desse modo a bexiga acomoda-se ao volume crescente e continua a encher. Quando uma certa expansão do volume é atingida, a pressão aumenta prontamente, e os núcleo suprapontinos não conseguem evitar o impulso para o esvaziamento atarvés do reflexo da micção (REECE, 1996, CARVALHO, 2008).
Segundo Nelson e Couto (2015) o processo de relaxamento e acomodação da vesícula urinária que permite o enchimento contínuo, com aumento reduzido na pressão intravesical é feito por meio dos beta-receptores. E o tónus mantido pelo esfíncter interno da uretra é proporcionado pelos alfa-receptores.
Na maioria dos animais, o impulso para a micção é usualmente obedecido, mas por exemplo, ele pode ser retardado em cães domésticos treinados. Nesse caso, o controle voluntário intervém, e a micção é permitida quando apropriado (REECE, 1996). O mesmo ocorre em humanos que por treinamento inibem a contrações dos neurônios parassimpáticos eferentes e ainda mantêm voluntariamente a contração do esfíncter uretral externo, constituído por fibras musculares estriadas (MALNIC, 2009).
Após a liberação do reflexo da micção pelos centros suprapontinos e corticais ocorre a fase de esvaziamento que começa com o relaxamento dos músculos do períneo e relaxamento dos esfíncteres externo e interno, e contração do musculo detrusor da bexiga (MALNIC, 2009). A micção é também auxiliada pelos músculos abdominais e pelo diafragma (REECE, 1996).
Uma vez que a micção é iniciada, o esvaziamento completo é assegurado em consequência do reflexo do tronco cerebral que é ativado pelos receptores de fluxo da uretra. À medida que a urina flui, a contração vesical continua até que não exista mais fluxo e ela esteja vazia (REECE, 1996).

 

 

CARACTERÍSTICAS DA URINA DOS MAMÍFEROS SEGUNDO REECE (1996)

 

Composição
A urina é formada para manter a composição dos líquidos extracelulares constante, e geralmente a maioria das substâncias que estão presentes no fluido extracelular também está presente na urina. Além disso, a composição da urina varia, dependendo de as substâncias estarem sendo conservadas ou excretadas.

 

Cor
A urina é usualmente de cor amarela. A cor amarela é derivada da bilirrubina que foi excretada no intestino e reabsorvida pela circulação porta como urobilinogênio. Grande parte do urobilinogênio é novamente excretada pelo fígado para o intestino, mas o urobilinogênio que atravessa o fígado pode ser excretado pelos rins na urina. Os vários bilinogênios são incolores, mas são espontaneamente oxidados quando expostos ao oxigênio. Assim, o urobilinogênio, quando parcialmente oxidado, é conhecido como urobilina, que é o maior responsável pela cor amarela da urina

 

Odor
O odor da urina é característico para cada espécie, sendo provavelmente influenciado pela dieta. Por exemplo, o odor característico transmitido à urina humana após a ingestão de aspargos é causado pela elaboração da forma amida de um aminoácido, o ácido aspártico.

 

Consistência
A urina apresenta consistência aquosa na maioria das espécies. Entretanto, a urina dos equinos é um pouco espessa e viscosa, por causa da secreção de muco pelas glândulas na pélvis dos rins e na parte superior dos ureteres. A urina do cavalo tem altas concentrações de carbonatos e fosfatos, os quais parecem precipitar-se estagnados. A secreção de muco provavelmente fornece um meio de carrear os carbonatos e fosfatos e impedir seu depósito na pélvis renal.

 

Componente nitrogenado
O principal constituinte nitrogenado da urina dos mamíferos é a ureia formada pelo fígado a partir da amônia produzida durante o metabolismo dos aminoácidos. O organismo gasta uma energia considerável para produzir a ureia a fim de que a toxicidade da amônia possa ser evitada. A ureia por si própria é relativamente atóxica.

 

Quantidade e densidade
A quantidade de urina excretada diariamente varia com a dieta, atividade, temperatura externa, consumo de água, estação e outros fatores. Podem ocorrer variações patológicas acentuadas. A densidade da urina varia com a proporção relativa de substâncias dissolvidas e a água. Em geral, quanto maior o volume menor a densidade. Os volumes e densidades específicos para os vários animais domésticos e para o homem estão mostrados no Quadro abaixo. ( Reece, 1996 � Dados de Altman e Dittmer, 1961)

Animal

Volume (mL/Kg de peso corporal/Dia

Densidade média e limites

Gato

10-20

1030 (1020 a 1040)

Bovino

17-45

1032 (1030 a 1045

Cão

20-100

1025 (1016 a 1060)

Caprino

10-40

1030 (1015 a 1045)

Cavalo

3-18

1040 (1025 a 1060)

Ovino

10-40

1030 (1015 a 1045)

Suino

5-30

1012 (1010 a 1050)

Homem

8,6-28,6

1020 (1002 a 1040)

 

 

TERMOS DESCRITIVOS

 

REECE (1996) apresenta os termos descritivos relacionados com a produção de urina e consequentes efeitos sobre a micção.
•  Continência Urinária é a condição normal de armazenar a urina na vesícula urinária enquanto ela está sendo preenchida.
•  Incontinência urinária é a condição em que o animal não apresenta tônus continuo do músculo do esfíncter externo e fechamento do colo vesical permitindo a eliminação da urina em gotas na medida em que é produzida.
•  Poliúria refere-se a produção aumentada de urina e consequente aumento na frequência das micções.
•  Oligúria indica a diminuição do volume produzido de urina com diminuição da frequência e da micção. •  Disúria é um termo usado para descrever a micção difícil ou dolorosa.
•  Anúria é o termo indica a condição em que não há produção de urina.
•  Estrangúria é a descarga lenta e dolorosa da urina, gota a gota, e causada pelo espasmo da uretra e vesícula urinária. A estrangúria é um sinal clínico da SUF (síndrome urológica felina) causada pela obstrução da uretra por um tampão que consiste de cristais de estruvita (fosfato de amônia-magnésio) e material mucoide

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CARVALHO, M. B. Semiologia do sistema urinário. Cap. 9. In: F.L.F. Feitosa, Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico. 2ª Ed.. São Paulo: Editora Roca, p. 427-448, 2008. Disponível em: <https://social.stoa.usp.br/articles/0031/7330/9_Semiologia_do_Sistema_Urin%C3%A1rio.pdf >. Acesso em: 21.nov. 2016
MALNIC, G. Organização do sistema urinário. Cap. 36. In: Curi, R. & Procopio, J. Fisiologia Básica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, p.507-519, 2009.
NELSON, R.W. &COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 5ª Ed. Cap. 48. Distúrbios da Miccção. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, p.704, 2015
REECE, W.O. Equilíbrio Hídrico. In: SWEENSON, M.J & RECCE,W.O. Dukes Fisiologia dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro. 11ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1996.

 

 

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